terça-feira, 30 de novembro de 2010

Disse que me disse _ João Filgueiras Lima

"O que não pode prevalecer são os modismos. Um prédio não foi feito para durar 2, 3 anos, mas pelo menos 20. Não pode fazer algo que daqui a 3 anos todo mundo vai achar que é uma besteira, que já passou, ficou anacrônico. " 

Raros são os arquitetos brasileiros que possuem o pensamento tão atemporal e tantas obras saídas de sua prancheta como João Filgueiras Lima, o Lelé. Carioca de nascimento, radicado em Salvador e atuante em todo o país, Lelé é o responsável por praticamente todos os projetos dos hospitais da Rede Sarah.
Sarah do Rio de Janeiro
Sarah do Rio de Janeiro
Participou como protagonista de um dos momentos mais importantes do modernismo brasileiro, o nascimento de Brasília, projetando, construindo e colaborando com outros arquitetos, como Oscar Niemeyer.

O arquiteto na construção de Brasília
Ele foi capaz de desenvolver ao longo de sua carreira uma obra única, mesmo no contexto internacional, extremamente ligada a aspectos básicos da construção: o clima, a pré-fabricação e o design. Lelé é mestre em aproveitar das condições do lugar para favorecer a iluminação e a ventilação dos espaços, priorizando ao máximo tudo o que pode ser natural. O resultado é uma notável melhoria de qualidade no tratamento e cura dos pacientes, com significativa redução dos índices de contaminação hospitalar.

Painel de Athos Bulcão


Sala de Reabilitação, Sarah de Brasília

Painel acústico de Athos Bulcão
No que diz respeito ao design, o artista Athos Bulcão é o autor das portas coloridas, equipamentos, azulejos e painéis de praticamente todas as obras do arquiteto Lelé.

João Filgueiras Lima, o Lelé




Aliando plasticidade e excelência técnica em sua obra, marcada pelo uso constante de componentes industrializados, Lelé mostra como é real o poder transformador da Arquitetura. 


"O projeto não se esgota na idéia inicial nem no desenvolvimento, só se conclui quando é habitado, só se consolida com o uso do espaço."

Fonte: Cynara Menezes -  O que é ser arquiteto: Memórias profissionais de Lelé ( João Filgueiras Lima)

Museu da Casa Brasileira

Um quebra-cabeça chamado Lelé



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Velho Chico _ Ronaldo Fraga

Para muitos, o tema Rio São Francisco não é inspirador. Por estar tão em evidência no que permeia questões ambientais o assunto parece cansativo. Mas isso só ocorre quando fechamos os olhos para a cultura que o Velho Chico carrega em seu leito. Rio São Francisco Navegado por Ronaldo Fraga: Cultura Popular, Moda e História vem para nos mostrar essa bela vertente do rio. Usando materias simples, o famoso estilista remonta a cultura local com muita fidelidade e de forma criativa. A esxposição é interativa: há um espaço onde, através de um quadro-negro, pode-se deixar mensagens diversas; há a pescaria, típica de festas-juninas, onde cada peixe feito de papel carrega uma mensagem sobre o rio, e que só pode ser lida se o peixe for fisgado. A moda é bordada com poesia, e exprime muito da raiz cultural do lugar. Vídeos gravados com Wagner Moura, ator que viveu na região do Velho Chico, contam a história das cidades naufragadas. Cada detalhe da exposição conta alguma novidade...

Ronaldo Fraga

Moda com sutileza

Canudos e garrafas pet: criatividade!


A exposição ficará no Palácio das Artes até o dia 28 de Novembro. Ver a valorização do artesanal e do processo criativo de perto é imperdível!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Disse que me disse: Seattle Central Library _ Rem Koolhaas

Nascido em Roterdã em 1944, Rem Koolhaas é um dos poucos arquitetos conhecidos internacionalmente não só por seus projetos, mas também por seus livros. Em 1978, escreveu Nova York Delirante, um clássico da arquitetura contemporânea. Em 1995, veio o dito poderoso volume S, M, L, XL. Koolhass também coleciona títulos - ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza, em 2010 e foi vencedor do Prêmio Pritzker, em 2001. Sendo um arquiteto nada convencional, a obra que melhor expressa sua complexidade, a meu ver, é a Biblioteca Pública de Seattle, projeto de 2004.

 Seattle Central Library

Treliças de sombras
Mobiliário e obra que conversam
Cores!
Mais cores!

Os onze andares do edifío parecem  flutuar em uma rede de aço coberta de vidro. Uma enorme escada rolante verde-limão quebra a sobriedade dos tom cinza da biblioteca. Os ambientes em vermelho parecem ter sido montados por Cildo Meirele. A singularidade está em todos os cantos.


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Fonte: Hanno Rauterberg - Entrevistas com Arquitetos
Josep Maria Montaner - As formas do século XX

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Areia com arte.

Fiesa - Algarve, Portugal
Obra exposta no Fiesa, Festival Internacional de Escultura em Areia.

Disse que me disse: Genius loci _ Huis Ten Bosch

Genius loci literalmente significa o gênio do lugar. O termo é usado para descrever lugares que são profundamente memoráveis por suas qualidades tanto arquitetônicas quanto experimentais. Quando vemos um prédio de tijolos vermelhos, com tulipas plantadas no jardim e moinhos ao fundo, associamos, quase que imediatamente, essa paisagem a algum bairro de Amsterdã. Apesar das aparências, não é da Holanda que estamos falando, e sim do Japão. A 40 minutos de trem de Nagasaki, encontra-se um parque temático  chamado Huis Ten Bosch Dutch Village, nome advindo das residências da família real holandesa. O espaço foi projetado para recriar, com surpreendente fidelidade, o clima da Holanda anterior ao século xx.

Huis Ten Bosch Dutch Village






Como se trata de um parque temático, as conclusões devem ser relativizadas, mas a questão pode ser levada para os diversos edifícios que são erguidos com a proposta óbvia de imitar alguma arquitetura típica. Não parece estranho os prédios negarem o ambiente oriental onde estão? A pequena cidade não fica parecendo apenas um "fake"? Será que as construções não deveriam falar das características do lugar onde estão, suas raizes, sua cultura, suas eras? Onde está o genius loci desse espaço? Ficam as perguntas.

Referências: Alain de Botton - A arquitetura da felicidade
Christian Norberg-Schulz - Genius loci: towards a phenomenology of architecture